Fragmentos de um dia de verão (que jamais aconteceu)

Ele sempre soube escolher cuidadosamente quais palavras usar, detestava quando as pessoas não o compreendiam.
Respirou fundo e buscou algo que pudesse explicar o que estava sentindo, mas
não conseguiu pensar em nada dessa vez. Respirou fundo novamente e olhou
apreensivo para os galhos das árvores, havia uma pequena brisa passando
por eles, daquelas que trazem as lembranças mais nostálgicas. E por um
momento ele sentiu como se ela estivesse soprando dentro de sua alma,
elevando seu corpo, sentia-se fluindo pelo ar como se também fizesse
parte do vento. Olhou para a garota e tentou novamente as palavras. Nada.
Estava assustado com a sensação de que, de repente, nenhuma palavra parecia
ser boa o bastante pra expressar o que queria. Ele olhou em direção as nuvens,
estavam se formando sobre o horizonte e se mesclando com o azul do céu enquanto
criavam formas como castelos de algodão, pensou sobre as histórias de
fantasia e reinos distantes, caveleiros, princesas e de como sempre
detestou o desenrolar de todas essas histórias.
Olhou para o mar. Sempre adorou como tudo parecia uma extensão do céu
vindo até a terra apenas para se quebrar em espumas, achava fascinante
a visão surreal que o mar sempre entregou carinhosamente para os seus olhos.
Quando se virou novamente, ela estava sorrindo em cumplicidade, havia
um ar em seu rosto que demonstrava exatamente tudo o que ele queria
tanto expresar em palavras. Ele entendeu que não era preciso dizer nada,
nunca foi preciso, por mais que amasse as palavras e por mais que
quisesse ter algo para dizer a ela, não era preciso. Então ele se
aproximou até que pudesse sentir sua respiração e observou seus lábios por pouco mais de 3 segundos de hesitação.
Ele a beijou.
Não porque precisava.
Não para substituir a falta das palavras.
Mas porque finalmente percebeu que era exatamente isso que ela esperava dele.
Era exatamente isso que ele esperava de si mesmo.
Ele a beijou e foi como se a brisa cessasse e eles estivessem no
olho do furacão, como se todos os castelos nas núvens estivessem
desabando em um terremoto e as ondas se agitassem alto tentando mais uma vez tocar os céus.
Ele a beijou e então se sentiu tão infinito que até o universo parecia estar curvado em reverência a eles.

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